Volume V: Continuidade e mudança no cenário global: desafios à inserção do Brasil
Os artigos aqui reunidos foram escritos ao longo de 2014 e início de 2015 e dão continuidade às análises sobre os problemas do desenvolvimento brasileiro que foram tema dos números anteriores da série Dimensões estratégicas do desenvolvimento brasileiro. Neste quinto volume, as abordagens possuem como foco comum a reflexão sobre questões relacionadas à inserção internacional do Brasil, incluindo dilemas e desafios frente à crise global e o contexto econômico e geopolítico internacional.
Um dos aspectos marcantes da economia mundial a partir de meados dos anos 2000 foi a aceleração do ritmo de crescimento dos países em desenvolvimento com a paralela melhoria das condições externas. A análise desse processo de descolamento e suas causas constituem o tema central do primeiro capítulo deste volume. Nele, Franklin Serrano, Carlos Medeiros e Fábio Freitas apontam a política de redução de juros nos Estados Unidos e em outros países centrais – que impulsiona fluxo de capital privado para os países em desenvolvimento – como a primeira causa do descolamento. A ela se somam mudanças significativas nas políticas econômicas dos países em desenvolvimento, que resultaram numa relevante dinamização de seus mercados internos e na melhoria da administração das balanças de pagamentos, como foi o caso do Brasil.
Não há dúvidas de que boa parte do dinamismo da economia global teve relação com a alta de preço das commodities e da demanda por recursos naturais, impulsionadas pelo vertiginoso crescimento chinês, processo este que perdeu fôlego nos últimos anos. Nesse sentido, a questão crucial que se coloca, e que os autores buscam responder, é se os países em desenvolvimento conseguirão manter a tendência de desacoplamento da primeira década do século frente a condições externas, provavelmente, não tão favoráveis dos próximos anos.
O segundo capítulo, de autoria de André Biancarelli, corrobora a previsão de um cenário internacional desfavorável e avança no diagnóstico do setor externo da economia brasileira, cuja dinâmica tem sido, historicamente, uma das principais restrições ao desenvolvimento do País. O autor demonstra que a fragilidade externa da economia brasileira tem raízes mais estruturais do que conjunturais. Mas, ainda que os próximos anos reservem um provável cenário de baixa liquidez internacional, a economia brasileira não deve correr o risco de uma crise cambial clássica, embora siga tendo suas contas externas como um complicador do processo de desenvolvimento nacional.
No terceiro capítulo, Pedro Rossi nos oferece novos elementos para análise da situação externa do País e dos ciclos internacionais de liquidez, com particular ênfase na sua relação com o comportamento das taxas de câmbio no âmbito do sistema financeiro internacional.
Os capítulos seguintes oferecem ao leitor algumas perspectivas sobre o desenvolvimento produtivo do Brasil e seus principais desafios. No Capítulo 4, Carlos Frederico Leão da Rocha analisa as estratégias de desenvolvimento em países periféricos e as suas potencialidades em termos de recursos naturais.
A importância do desenvolvimento da estrutura produtiva nacional e seus desafios frente às mudanças globais e domésticas, abordados no capítulo anterior, são retomados por Célio Hiratuka no Capítulo 5. O artigo evidencia que o debate sobre a relevância e as perspectivas da indústria nacional ganhou força nos últimos anos como fruto da busca por soluções para a superação da crise econômica, em particular, no que diz respeito à questão do emprego, em todo o mundo e também no Brasil.
No sexto capítulo, Simone de Deos traça uma análise dos impactos da crise de 2008 sobre grandes grupos financeiros, em especial os bancos norte-americanos. O artigo apresenta e discute os principais aspectos da nova regulação do sistema financeiro norte-americano, procurando esclarecer seus fundamentos teóricos e suas perspectivas de impacto e eficácia.
Por fim, no sétimo capítulo deste livro, de Ivette Luna, são debatidos os principais modelos de crescimento da teoria econômica, com destaque para o fato de que além das implicações em termos de política econômica de cada uma das correntes, a caracterização desses modelos permitirá identificar o papel do progresso técnico e da inovação na produtividade e, consequentemente, no crescimento dos países. O artigo enfatiza, sobretudo, a relevância da abordagem schumpeteriana de crescimento, em razão de sua abrangência e do papel dado por esta abordagem às inovações.
Em suma, trata-se de um conjunto de artigos que buscam aprofundar a compreensão sobre as interrelações entre o ambiente internacional e o doméstico e apontar desafios e perspectivas vitais para o desenvolvimento brasileiro nas próximas décadas.
Mayra Juruá Gerson Gomes
Assessora técnica do CGEE Diretor do CGEE