Para o órgão mundial dos formuladores de políticas econômicas, ativos digitais privados podem coexistir com versões operadas por autoridades monetárias
Por Eva Szalay e Philip Stafford, Financial Times, Valor — Londres
Os bancos centrais estão em disputa com os operadores privados do setor de “stablecoins”, as criptomoedas de valor estável, para ter o domínio sobre o dinheiro digital e proteger os consumidores, concluiu o órgão mundial dos formuladores de políticas econômicas.
Em relatório divulgado nesta quinta-feira, o Banco de Compensações Internacionais (BIS) concluiu que ativos digitais privados podem coexistir com possíveis moedas digitais operadas por bancos centrais. Segundo o BIS, as versões dos bancos centrais contariam com bancos e outras instituições financeiras para atuar como intermediários para criar crédito e ajudar a salvaguardar a estabilidade financeira.
O documento reflete a ansiedade crescente entre autoridades de que o crescimento rápido das criptomoedas e as iniciativas do setor privado com relação a pagamentos possam levar os bancos centrais a perderem o controle de seu dinheiro.
Este é o segundo relatório do BIS sobre moedas digitais lastreadas por bancos centrais, que são em parte uma tentativa das autoridades nacionais de combater a ameaça a seu papel. O estudo é uma atualização sobre os princípios básicos das moedas digitais dos bancos centrais (CBDCs, na sigla em inglês), estabelecidos por um grupo de sete bancos centrais em outubro do ano passado. As conclusões mais recentes vêm do mesmo grupo, que inclui os bancos centrais dos Estados Unidos, da União Europeia, do Reino Unido e do Japão.
“Os bancos centrais que contribuíram para este relatório já identificaram que um CBDC pode ser um instrumento importante para garantir que eles possam continuar a cumprir seus objetivos de políticas públicas, mesmo com a evolução do sistema financeiro”, informa o documento.
Stablecoins são tokens de criptomoedas nativas da tecnologia blockchain, que em geral se dizem lastreadas, na base de um por um, em ativos tradicionais, como dívidas em dólar. Elas oferecem uma maneira relativamente fácil para operadores de criptomoedas entrarem e saírem de moedas como o bitcoin e o ethereum, e costumam ser apresentadas como uma possível alternativa às moedas tradicionais, como o dólar, como um meio de pagamento.
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O relatório do BIS observou que a adoção significativa do uso de stablecoins pode levar à fragmentação e a um “poder de mercado excessivo”.
O documento reconheceu que também existem riscos associados às alternativas lastreadas por bancos centrais, mas argumentou que as iniciativas privadas teriam “benefícios públicos menores”, porque não seriam intercambiáveis com outras formas de dinheiro e carecem das proteções que as moedas nacionais têm.
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As recomendações mais recentes propõem que as moedas digitais de bancos centrais dependam dos bancos comerciais para criar crédito para os consumidores. O relatório sugere que qualquer crédito criado por um banco central seja reciclado no sistema de pagamentos.
Texto do Financial Times reproduzido pelo Valor. Leia a matéria completa aqui