Por Fernando Sarti e Mariano Laplane
Em Le Monede Diplomatique
A origem do capital das corporações é um fator condicionante do perfil da base produtiva e tecnológica de um país e, por consequência, do seu padrão de inserção externa. Não é por outro motivo que os países sedes dessas grandes corporações têm adotado políticas de desenvolvimento produtivo e tecnológico com o objetivo de atraírem e reforçarem as atividades mais nobres e de maior valor agregado, incluindo as atividades de pesquisa, desenvolvimento e inovação.
O Brasil tem uma elevada presença de capital estrangeiro nas suas estruturas de produção e de comércio de bens e serviços. Essa participação tem se ampliado substancialmente desde a crise financeira internacional, iniciada em 2008, e com a desaceleração em 2014 e posterior recessão econômica doméstica de 2015 a 2019. A participação estrangeira tem sido reforçada pelos elevados fluxos de Investimento Direto no País (IDP), sobretudo na forma de operações de Aquisição e Fusão (A&F) de empresas nacionais, promovendo um processo de desnacionalização da base produtiva. Portanto, aumenta a preocupação com a transferência de decisões e atividades estratégicas para fora do país
Adicionalmente, no caso brasileiro, a diferença dos países desenvolvidos, as estratégias de internacionalização das empresas nacionais foram desaceleradas no pós-crise internacional, reflexo de suas menores capacitações competitivas, sobretudo produtivas, tecnológicas e financeiras (Gráfico 1).
Gráfico 1. Brasil: Evolução e Participação no IDE recebido e realizado global (em US$ bilhão e em %)
Importante destacar que no período mais recente, que abrange os anos recessivos de 2015 a 2018, os segmentos, que lideraram as compras de empresas domésticas por empresas estrangeiras, foram: empresas de internet (161 operações), tecnologia da informação (110), serviços de empresas (101), alimentos, bebidas e fumo (67), companhias energéticas (53), empresas petrolíferas (49) e instituições financeiras (49).
Entretanto, o aprofundamento dos processos de internacionalização do mercado interno e da base produtiva brasileira, não promoveu, paradoxalmente, um aumento de competitividade nem uma inserção externa mais virtuosa, segundo os indicadores de competitividade industrial (ICI) da Unido (Gráfico II)
Gráfico 2. Brasil: Evolução das Estruturas de Produção e Exportação de Manufaturados, Grau de Industrialização e Intensidade Tecnológica 1990, 1995, 200, 2005, 2010, 2015, 2016, 2017 (em %)
O gráfico 2 resume a evolução de alguns dos indicadores. Com relação à intensidade tecnológica da estrutura de valor agregado manufatureiro (VAM) e de exportação de manufaturados não houve um processo de upgrading como verificado nas principais economias industrializadas. Além disso, a redução do grau de industrialização (relação entre o VAM e o PIB) foi acompanhada de substancial perda de participação tanto no PIB quanto no VAM dos países emergentes industriais. A maior participação do capital estrangeiro e a desnacionalização da produção reforçaram, mais do que transformaram, a estrutura produtiva e a inserção externa preexistente.
Melhorar a posição do Brasil na economia global exige a diversificação virtuosa da estrutura produtiva e a conquista de mercados mais dinâmicos que ofereçam melhores oportunidades de capturar valor para a produção doméstica. O perfil dos vultosos investimentos realizados pelas empresas estrangeiras no Brasil não tem resultado em avanços significativos nessa direção, tornando ainda mais desafiadora a implementação de políticas orientadas a um desenvolvimento autônomo, soberano e sustentável.
Clique aqui para ler a nota completa
Foto: Witthaya Prasongsin/Getty Images