Baixe o relatório completo aqui
O relatório Balanço Preliminar das economias da América Latina e o Caribe 2020 é um documento anual elaborado pela Divisão de Desenvolvimento Econômico da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe. Nele são abordadas diferentes dimensões sobre a dinâmica econômica regional e mundial, que explicam os resultados e tendências observados e/ou projetados nos diferentes aspectos econômicos e sociais.
O documento conta com oito capítulo, sendo o primeiro deles dedicado à análise da economia mundial e as principais tendências sobre o comércio global e os preços internacionais, entre outros. O segundo capítulo aprofunda nas medidas monetárias contra cíclicas adotadas pelos países centrais e a evolução da liquidez mundial, enquanto que o terceiro se debruça sobre os resultados das contas externas, enfatizando o resultado das contas correntes, os fluxos de IED e as emissões de dívida soberana. A partir do quarto capítulo o foco é colocado nos aspectos internos das economias, começando pela atividade económica doméstica e os principais componentes. A evolução dos preços internos, por um lado, e do emprego e dos salários, por outro, é avaliada nos capítulos cinco e seis, respectivamente. O sétimo capítulo versa sobre as principais políticas fiscais, monetárias e cambiais adotadas pelos países da região. Por último, o oitavo capítulo encerra o relatório com as perspectivas e riscos para o ano de 2021.
A seguir são colocados os principais ideias do trabalho
- Globalmente, 2020 foi um ano caracterizado por uma forte crise econômica e sanitária, e pela grande incerteza derivada da falta de conhecimento sobre a dinâmica e evolução da pandemia da doença do coronavírus (COVID-19). Assim, para este ano, espera-se a maior contração do PIB mundial desde 1946
- A crise desencadeou uma contração considerável no comércio internacional, fortes oscilações nos preços dos bens primários e alta volatilidade nos mercados financeiros. Além disso, as medidas de confinamento adotadas na grande maioria dos países do mundo para conter o avanço da pandemia tiveram um impacto significativo no turismo e atividades relacionadas, como a aviação comercial e o serviço de restaurantes e hotéis.
Gráfico. Taxa de crescimento do PIB 2019 e projeções para 2020 e 2021 (países selecionados)
- Para fazer frente aos efeitos da pandemia, foram anunciados pacotes fiscais e monetários inéditos, em valores próximos a 12 trilhões de dólares em ações fiscais e 7,5 trilhões em anúncios de ações monetárias. Essas medidas amorteceram a queda da atividade econômica, mas também resultaram em elevados níveis de liquidez, o que possibilitou o aumento do endividamento em todo o mundo.
- A América Latina e o Caribe são a região mais atingida no mundo emergente. As fraquezas e lacunas estruturais históricas da região, seu espaço fiscal limitado, baixa cobertura e acesso à proteção social, alta informalidade do trabalho, a heterogeneidade produtiva e a baixa produtividade são centrais para entender o alcance dos efeitos da pandemia nas economias da região, suas dificuldades na implementação de políticas que mitiguem esses efeitos e os desafios ao empreender uma reativação econômica sustentável e inclusiva.
- Antes da pandemia, a região já apresentava baixo crescimento econômico: em média 0,3% no semestre 2014-2019, e especificamente em 2019 uma taxa de crescimento de 0,1%. Com a chegada da pandemia se materializará na pior crise econômica, social e produtiva que a região viveu nos últimos 120 anos e na queda de 7,7% do PIB regional.
- A nível global, em 2020 a economia mundial deverá sofrer uma queda de 4,4%. Para as economias desenvolvidas, espera-se queda de 5,8% em 2020 Para as economias emergentes e em desenvolvimento, espera-se uma queda de 3,3% neste ano; das principais economias, a China será a única a crescer a taxa positiva (1,9%).
- Em 2021, espera-se uma retomada da taxa de crescimento da economia mundial em torno de 5,2%. Nas economias desenvolvidas, projeta-se uma taxa de crescimento de 3,9% em 2021. Nas economias emergentes e em desenvolvimento, espera-se um crescimento de 6% em 2021, com destaque para a China (que cresceria 8,1%)
- No que diz respeito ao comércio mundial, segundo a Organização Mundial do Comércio (OMC) 3, projeta-se queda de 9,2% neste ano e recuperação de 7,2% em 2021.
- Segundo o Instituto de Finanças Internacionais (IIF), a dívida dos governos e empresas dos países desenvolvidos atingiu 432% do PIB no terceiro trimestre de 2020, enquanto em os países emergentes atingiram 250%.
- Apesar da queda nas exportações, o déficit em conta corrente da região diminuirá significativamente (para 0,4% do PIB ante 1,8% do PIB em 2019) devido à forte contração das importações. Têm o pior desempenho desde a crise financeira global: espera-se uma redução de 14% em termos de volume. O valor das exportações da região cairia 13%: os preços de exportação cairiam 7% e os volumes de exportação 6%.
- Em termos setoriais, embora a situação atual tenha tido um impacto negativo em todos os setores, o fez com intensidades na indústria transformadora, a construção, o comércio e os transportes. Os menos afetados foram a agricultura, os serviços públicos de caráter essencial, os serviços financeiros e a mineração.
- No que se refere aos mercados de trabalho, espera-se para 2020 uma taxa média de desemprego em torno de 10,7%, A perda de empregos afetou grupos vulneráveis em maior medida: trabalhadores informais, jovens, pessoas com menor nível de educação formal, mulheres e imigrantes. Especificamente, houve uma queda maior do emprego entre as mulheres, que se afastaram em maior medida do mercado de trabalho para assumir tarefas adicionais de cuidado em casa.
Gráfico. América Latina e Caribe (10 países): variação de emprego por atividade, segundo e terceiro trimestre de 2020
- O resultado global dos governos centrais da América Latina é de -5,0% do PIB na média dos nove primeiros meses do ano, ante -1,6% do PIB registrado no mesmo período 2019. Esta dinâmica repete-se no Caribe, que apresenta déficit global médio de -2,4% do PIB para os governos centrais no ano até junho, enquanto, no mesmo período de 2019, registrou superávit de 0,5% do PIB. A deterioração das contas fiscais exerceu forte pressão sobre as necessidades de financiamento da maioria dos países da região, o que resultou em uma tendência de aumento da dívida pública.
Gráfico. Resultado global dos governos centrais de América Latina, 2019 e 2020 (% do PIB)
- Em setembro de 2020, a dívida pública bruta média dos governos centrais da América Latina atingia 53,4% do PIB, valor 7,4 pontos percentuais do PIB superior ao do final de 2019.
- Os instrumentos convencionais e não convencionais utilizados pelos Bancos Centrais levaram a uma expansão significativa da liquidez, bem como a um aumento dos financiamentos direcionados ao setor privado, mas, principalmente, daqueles concedidos ao setor público. Regulamentações macroprudenciais também foram adaptadas para preservar a estabilidade do sistema financeiro e o bom funcionamento do sistema de pagamentos
- Nos primeiros três trimestres de 2020 houve fortes correções cambiais, e a depreciação média foi de 16,3%.
- Estima-se um crescimento médio regional de 3,7% em 2021, porém 3,1 pontos da taxa de crescimento projetada para a região em 2021 correspondem ao carry-over estatístico. Os 3,7% projetados permitiriam apenas a recuperação de 44% da perda do PIB registrada em 2020.
Gráfico. América Latina e Caribe: projeções de crescimento 2021