Volume IV: Brasil em busca de um novo modelo de desenvolvimento
O Centro de Altos Estudos Brasil Século XXI, desenvolveu, nos últimos dois anos, estudos críticos e aprofundados para diagnosticar e propor soluções para as principais temáticas do desenvolvimento econômico e social brasileiro. O presente livro, composto de oito capítulos, divulga parte desses estudos e integra a série “Dimensões Estratégicas do Desenvolvimento Brasileiro”, cujos primeiros volumes podem ser integralmente baixados eletronicamente. Neste quarto volume, questões cruciais para o processo de desenvolvimento brasileiro com foco no ambiente doméstico são discutidas e analisadas.
No primeiro capítulo “A construção novamente interrompida? Dilemas da economia brasileira no período recente (2004-2014)” os autores Braga e Palludeto argumentam que o processo de superação e/ou redução de alguns dos principais gargalos ao desenvolvimento brasileiro (redução da vulnerabilidade externa, estabilidade monetária e financeira, padrão de crescimento sustentado no investimento com avanços sociais), que se desenhava no início dos anos 2000 até os desdobramentos da crise financeira internacional, parece ter se esgotado e até mesmo retroagido em algumas dimensões.
O segundo capítulo, de autoria de Ricardo Bielschowsky, “Uma avaliação social-desenvolvimentista sobre a evolução das políticas socioeconômicas no Brasil: 2003-2013” avalia os avanços e problemas na estratégia de desenvolvimento econômico e social nos governos Lula e Dilma. O autor aponta avanços sociais (melhoria distributiva, queda na pobreza e na indigência, aumento de salário médio e mínimo; redução da taxa de desemprego, formalização do mercado de trabalho, aumento da participação do gasto público social no PIB), mas também alguns atrasos e/ou problemas ainda não resolvidos: acesso e qualidade educacional, mercantilização no sistema de saúde e de educação, mobilidade urbana, saneamento, regressividade no sistema tributário, alta concentração da renda e da propriedade, entre outros.
O terceiro capítulo “Mercado de trabalho, políticas sociais e distribuição de renda – performance recente e perspectivas” apresenta as razões para a melhoria da distribuição de renda desde o início dos anos 2000, a partir do desempenho do mercado de trabalho e das políticas sociais do período.
O quarto capítulo “Transformações recentes no mundo do trabalho no Brasil: demografia, estrutura ocupacional e desigualdade” dos autores Fracalanza e Corazza complementa a discussão do terceiro capítulo e analisa, a partir de uma série de indicadores, as mudanças e avanços positivos no mercado de trabalho no Brasil, ressalvando que essas conquistas foram tímidas e frágeis, podendo ser revertidas em um curto espaço de tempo.
O quinto capítulo “Transformações produtivas e patrimoniais no Brasil pós-crise” trata da desaceleração da economia brasileira a partir de 2010 com base nos impactos das mudanças de estratégias de produção, investimento e inserção externa das grandes corporações frente à conjuntura econômica doméstica e internacional bastante adversa. Como aponta seu autor Marco Antonio da Rocha, uma primeira estratégia defensiva foi a reestruturação parcial das cadeias de fornecedores de um conjunto de atividades produtivas com a substituição de produção local por produtos importados, o que foi favorecida tanto pela internacionalização das grandes empresas quanto pela crescente valorização cambial. Outro fator que contribuiu para reduzir os encadeamentos produtivos sobre a economia foi a redução da demanda internacional e dos preços de algumas commodities extrativas e agrícolas. O último fator analisado foi a desaceleração dos investimentos públicos no período mais recente.
O sexto capítulo “Bancos de desenvolvimento e políticas anticíclicas: um estudo de experiências no Brasil e Chile” enfatiza numa perspectiva histórica a importância dos bancos públicos no financiamento do desenvolvimento econômico. A autora, Ana Rosa Ribeiro de Mendonça, analisa de forma mais detalhada a atuação dos bancos públicos na concessão de crédito nas duas últimas décadas no Brasil e no Chile.
O sétimo capítulo “Padrão do crescimento brasileiro pós Plano Real: uma abordagem estrutural a partir da análise de insumo-produto” de autoria de Marcelo Pereira Cunha apresenta duas metodologias para a avaliação do padrão de crescimento da economia brasileira no período 1995- 2009. A primeira metodologia utiliza as Tabelas de Recursos e Usos (TRU) do IBGE. A segunda realiza uma análise de decomposição estrutural para o aumento da produção, separando o efeito de aumento da demanda final (efeito escala) do efeito de mudança tecnológica (alteração na estrutura de consumo intermediário), a partir da matriz de insumo-produto e dos efeitos diretos e indiretos ao longo da cadeia produtiva.
Finalmente, o último e oitavo capítulo “Exportações brasileiras de bens manufaturados e integração regional: evolução recente e perspectivas” de responsabilidade de Marta Castilho trata outro tema importante na agenda desenvolvimentista que é a contribuição da integração comercial regional para um padrão virtuoso de inserção externa e seus impactos sobre o desenvolvimento industrial brasileiro. A autora analisa a estrutura setorial e geográfica da pauta exportadora brasileira, enfatizando a importância da América Latina como destino das nossas exportações de produtos industriais, sobretudo aqueles de maior grau de sofisticação.
Acreditamos que o conjunto destes capítulos traça um diagnóstico aprofundado e crítico do desenvolvimento econômico e social brasileiro nas últimas duas décadas, constituindo em uma importante contribuição para o avanço e aperfeiçoamento da agenda desenvolvimentista.
Uma ótima leitura a todos!
Fernando Sarti
Diretor do Centro de Altos
Estudos Brasil Século XXI